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Lenços umedecidos para bebês causam mal. E ai, é verdade?


A mídia esta alertando para o perigo do uso de lenços umedecidos. Um estudo bastante citado é o da médica Mary Wu Chang, doutora em dermatologia na Universidade de Connecticut, mostrando que os lencinhos usados para limpar as partes íntimas dos bebês podem desencadear sérias alergias e eczemas graves (CHANG et al., 2014). Coincidentemente, em maio deste ano (2017) alguns lencinhos umedecidos foram retirados do mercado norte americano, pela própria empresa produtora. O motivo deste recall é devido a uma alteração na coloração do produto e não está relacionado com potenciais problemas dermatológicos (webMD). Além disto, existem rumores de que os lencinhos umedecidos podem causar sinéquia vulvar. Entretanto, não encontramos dados científicos que comprovem esta informação.


As reações dermatológicas associadas ao uso de lenços umedecidos se deve ao excipiente metilisotiazolinona (MIT). A função desta substância é de biocida, atuando na prevenção do crescimento de colônias de bactérias e leveduras. O conservante em questão, atualmente, é classificado como um sensibilizante moderado a forte e é um alergeno emergente na população pediátrica (ADMANI et al., 2014). Segundo os dermatologistas, o MIT apenas perde para o níquel em propensão para provocar alergias. (ANEJA et al., 2012)


O Regulamento (UE) 2017/1224 de 6 de julho de 2017 da Comissão Europeia (publicado no Jornal Oficial da União Europeia de 7 de Julho de 2017) altera as condições da MIT nos produtos cosméticos. Este conservante é uma importante causa de alergias cutâneas. A substância, está atualmente autorizada como conservante em produtos cosméticos enxaguáveis, com uma concentração máxima de 0,01 % peso/peso (100 ppm). A concentração máxima autorizada vai ser reduzida para 0,0015 % (15 ppm) nos produtos enxaguáveis. A Cosmetics Europe conduziu uma investigação sobre o assunto e encontrou evidências que sugerem a relação entre o MIT e as manifestações alérgicas. Daqui resulta o verídico de que será necessário reduzir as concentrações deste composto nas formulações.


Inicialmente o MIT era misturado com metilcloroisotiazolinona (MCI) em proporções de 3:1, mas suspeitas de que o MCI provocaria alergias fizeram com que alguns fabricantes tenham passado a usar o MIT exclusivamente. Na altura em que o MIT era misturado com MCI, a concentração habitual era 4 ppm, mas com a alteração da legislação europeia, o teto máximo permitido passou para 100 ppm.


A Comissão Européia baniu o uso do conservante MIT em produtos não enxaguáveis. A MIT é um conservante bastante popular entre os formuladores devido a sua alta solubilidade em água e espectro de ação, por isso está presente em shampoos, sabonetes líquidos, loções corporais e lenços umedecidos. As empresas têm que reformular ou descontinuar qualquer produto cosmético não enxaguável contendo MIT no mercado europeu.


No Brasil é permitida a ultização da combinação metilisotiazolinona com metilcloroisotiazolinona, desde que em concentração 0,0015% (de uma mistura na proporção 3:1 de metilcloroisotiazolinona e metilisotiazolinona), segundo RDC número 29 de 1 de Junho de 2012. O uso da metilisotiazolinona também é permitido sem associações e não há restrições quanto a produtos enxaguáveis ou não enxaguáveis, em concentração 0,01%.


Considerando a RDC n°29 de 2012, fomos ao supermercado verificar os ingredientes de diferentes marcas de lencinhos umedecidos para bebês. Apesar da legislação brasileira permitir o uso de MIT em cosméticos, todas os produtos que encontramos usavam conservantes diferentes de MIT.


Mesmo assim, não podemos descartar a possibilidade de erros no rotulo. Um estudo de caso na Suíça mostra a importância da vigilância com os conservantes. Uma enfermeira de 39 anos, utilizava apenas lenços umedecidos que não continham este componente declarado no rótulo. Apesar de todo o cuidado, ela apresentou por sete meses sérias reações como eczema nos braços, pescoço e tronco. Após analise em laboratório especializado, foi provado que os sintomas foram causados pela presença não declarada do MIT em duas marcas de lencinhos utilizadas por ela (Vanneste et al. 2013).



REFERENCIAS

Admani, Shehla, Catalina Matiz, and Sharon E. Jacob. "Methylisothiazolinone: a case of perianal dermatitis caused by wet wipes and review of an emerging pediatric allergen." Pediatric dermatology 31.3 (2014): 350-352.

Chang, Mary Wu, and Radhika Nakrani. "Six children with allergic contact dermatitis to methylisothiazolinone in wet wipes (baby wipes)." Pediatrics 133.2 (2014): e434-e438.

Aneja S, Cao LY, Taylor JS. “Contact dermatitis and related disorders.” ACP Medicine. 2012.

Vanneste, Lucie, et al. "Allergic contact dermatitis caused by methylisothiazolinone from different sources, including ‘mislabelled’household wet wipes." Contact dermatitis 69.5 (2013): 311-312.

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