top of page

Cosméticos sem testes em animais. E aí, é verdade?


Um dos temas mais polêmicos no mundo dos cosméticos é a utilização de animais em testes de segurança. Esse assunto divide opiniões entre aqueles que lutam pelos direitos dos animais e acusam de crueldade as empresas que fazem testes com eles, e aqueles que argumentam que os testes em animais são necessários pra garantir a segurança dos humanos e o progresso de pesquisas e desenvolvimento de novos produtos.Dada essa polêmica muito tem se pesquisado a respeito dos testes de segurança de cosméticos em animais.

Um dos principais animais usados nos testes in vivo são os camundongos.

Os cosméticos não são isentos de desencadear reações adversas aos seus consumidores, seja por fatores individuais ou pelo uso inadequado do produto (Rogierset al., 1999). Por isso, os ensaios biológicos para avaliação de segurança devem ser feitos antes da disponibilidade do cosmético ao mercado (Brasil, 2012). Para tais ensaios, são utilizados modelos animais (in vivo) que melhor evidenciem os riscos potenciais com o uso destes produtos, seja efeito sistêmico ou irritação e alergia locais; todavia, atualmente, ensaios alternativos (in vitro) estão sendo adotados (Chiarietal, 2012). O conhecimento das propriedades das matérias primas da um direcionamento quanto ao perfil toxicológico do produto acabado, desde que respeitada a sua forma cosmética e, especialmente, a associação de ingredientes (Brasil, 2012). Conhecer bem a mataria-prima ganha destaque com a crescente tendência da utilização de extratos vegetais nas formulações cosméticas (Souza et al., 2005; Iha et al., 2008). Porém, ainda são poucos os estudos na literatura em relação à atividade mutagênica ou fototóxica desses extratos (Ramos et al., 2005). Isso reafirma a necessidade de ensaios de segurança destes produtos (Chiariet al, 2012).



Mesmo considerando o rigor e ética cientifica envolvidos nos testes em animais, não podemos negar que há desconforto e possibilidade de dor e óbito. Toda essa problemática gerou o termo cruelty free (livre de crueldade) que empresas ostentam em seus produtos de forma errada. Como o termo é novo está passível de diversas interpretações. Segundo a instituição Cruelty Free International, empresas livres de crueldade são aquelas que não fazem testes em animais em seus produtos acabados, nem durante seu desenvolvimento e nem usa ingredientes de fornecedores que o façam. Essa instituição criou o selo “Leaping Bunny” que concede às empresas dessa conduta.Porém, vale ressaltar, que este selo é concedido à empresa, e não ao produto. Logo, por mais que haja um produto que se enquadre na conduta cruelty free, se a empresa não a pratica nenhum dos seus produtos deve ostentar o selo. Então, empresas como a L’Oreal, que ainda fazem testes com animais, não poderiam exibir em seus rótulos esse termo.


O desenvolvimento de métodos alternativos de avaliação de produtos cosméticos tem sido objeto de estudos. Busca-se a substituição de métodos de avaliação em animais por modelos que utilizem culturas de células ou o aproveitamento de partes animais (in vitro) assim como a utilização dos modelos animais de forma mais responsável (usar o menor número de animais possível e/ou utilizar o mesmo animal para diferentes ensaios) (Marona et al., 2004; Chiari et al, 2012).


A tentativa de reduzir o uso de animais na indústria cosmética é uma tendência mundial seguida por diversas organizações na Europa, EUA, Japão, Coréia e Canadá (Rogierset al., 1999; Chiariet al, 2012). Como indicativo dessa tendência, a Europa já baniu em 2009 a utilização de ensaios de toxidade in vivo para componentes de formulações cosméticas, e a avaliação da dose tóxica in vivo foi banida em 2013 (CE nº 1223/2009).


Um grande avanço foi a utilização de pele artificial em ensaios in vitro de cosméticos. Peles reconstruídas têm sido propostas como uma alternativa aos testes de irritação, genotoxicidade e fototoxicidade a vários reagentes que são realizados em animais(Chiarietal, 2012). Empresas como a L’Oreal atualmente utilizam esse modelo de ensaio, porém, é uma alternativa muito cara que empresas de menor porte não tem condições de arcar. Além disso, a pele artificial substitui uma parcela dos ensaios com animais, mas não a sua totalidade.


A necessidade da utilização de animais em testes de segurança em cosméticos deve ser constantemente revista tendo em mente alternativas sustentáveis de utilização. A tendência mundial é a diminuição desses testes, porém, tendo em vista o exposto no parágrafo acima, a totalidade de produtos cruelty free pode ser impossível de se alcançar.



Outra pergunta: Com tanto avanço no restante do mundo, porque o Brasil parece não avançar?


Pra responder a essa pergunta temos que levar em consideração o que é considerado “cosmético” no Brasil e no resto do mundo. Pela definição da Anvisa cosméticos são preparações de uso externo com o objetivo principal de limpar, perfumar, alterar a aparência, corrigir odores, proteger ou manter em bom estado. Nessa classificação enquadram-se xampus, condicionadores, perfumes, sabonetes, maquiagens, protetores solar, repelentes de insetos, entre outros (Brasil, 2005). Entretanto, para o FDA os cosméticos são artigos deusoexterno ou internoparalimpeza,embelezamento,promoçãode atratividadeoualteraçãodaaparência do corpo. Com isso, nem todos os produtos citados anteriormente se enquadram aqui, como protetor solar e repelente, pois, a função de proteger é destinada aos medicamentos (FDA, 2017). Ou seja, nem todo produto que é cosmético no Brasil é em outros países. Produtos como protetor solar e repelente requerem testes de segurança, como é feito em todo mundo. A diferença nas legislações é um ponto crucial para entender as diferenças na conjuntura atual dos testes em animais.



Referências Bibliográficas

bottom of page