Os termos No poo e Low poo surgiram com Lorraine Massey, quando em 2002 ela lançou o livro The Curly Girl Handbook (“O livro das cacheadas”- livre tradução), que sugere técnicas e hábitos de lavar e secar os fios, criadas por ela, para minimizar o dano aos cabelos.
Os produtos de higiene No poo e Low poo, são caracterizados por agredirem menos o cabelo, pois contam com nenhum ou pouco tensoativo, respectivamente. Os tensoativos são substâncias detergentes, responsáveis por limpar as gorduras e sujeiras do cabelo. Estes podem ser de carga negativa ou neutros. Os derivados de sulfatos, amplamente utilizados, possuem carga negativa e alto poder de limpeza, sendo considerados os grandes vilões. Acredita-se que essas substâncias podem fragilizar o fio do cabelo, pela perda de proteínas como a queratina.
Em contrapartida, o não uso dessas substâncias pode causar acúmulo de gordura no couro cabeludo, favorecendo o crescimento de microorganismo e aspecto oleoso. Os tensoativos usados em produtos Low poo possuem um poder detergente menor, por isso alguns produtos oleosos são proibidos para pessoas que fazem uso das técnicas No e Low poo, como os petrolatos.
Como assim, cabelo cacheado sem aquele finalizador a base de óleo? Podem respirar, o mercado já encontrou substitutos para os petrolatos, estes também fornecem brilho aos cabelos mas podem ser lavados usando tensoativos leves (com baixo poder de detergência).
Estudos, realizados na Universidade de Campinas (UNICAMP), mostraram que fios tratados com tensoativos derivados de sulfatos, foram mais danificados se comparado ao tratamento somente com água. O grau de degradação variou de acordo com o grau de detergência, onde os tensoativos de carga negativa (sulfatos) extraem em maior quantidade as substâncias do cabelo enquanto os sem carga, que em comparação tem menos detergência, extraiam menos. Os tensoativos sem carga causaram danos ao cabelos em uma extensão semelhante ao uso de água, somente.
Outro estudo chegou a uma conclusão bem diferente. Uma pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba comparou xampus contendo sulfatos e xampus contendo tensoativos diferentes dos sulfatos. Analisando os fios dos cabelos por microscopia eletrônica, os autores verificaram que não houve efeitos negativos causados pelos xampus que continham sulfatos.
Não podemos esquecer que outros fatores podem influenciar na quebra do fio e perda do brilho, como água quente, esfregar os fios e o uso de secador e chapinha. Uma pesquisa feita em 2003, também pela UNICAMP, comparou formulações cosméticas com sulfato e sem sulfato, e também fez uma comparação usando silicone nos fios, para saber se ele poderia diminuir o dano. Foi concluído nesse estudo que o cabelo em contado com a solução como Lauril Sulfato de Sódio, perdeu duas vezes mais proteínas do que aquele imerso somente em água, e que a temperatura do banho influenciava na perda de proteínas, onde quanto maior a temperatura, maior a perda proteica. Nesse mesmo estudo foi observado que a fricção foi responsável por 80% da perda das proteínas do cabelo, e isso significa que a maior degradação é feita pelo atrito aplicado nas fibras, e não pela ação detergente do xampu. Sobre os silicones adicionados na solução usada de Lauril Sulfato de Sódio, não teve interferência, visto que ele não se aderiu ao fio, mas quando foi adicionado a água, o silicone conseguiu se aderir ao cabelo e diminuiu o dano no processo de fricção, por diminuir o atrito.
Os sulfatos agridem nossos cabelos, mas eles não são os únicos agressores. Se o seu xampu ideal, aquele que cabe no bolso e deixa seu cabelo como você gosta, tem sulfatos não tem problema. Tenta se adequar a outras formas de reduzir danos como a temperatura da água e o esfrega-esfrega para lavar e secar, que a própria Lorraine Massey comenta. Quando se trata de cabelos, cada um tem o seu. Precisamos experimentar para descobrir aquilo que melhora a estética de nossos cabelos. Se no seu caso as técnicas No Poo ou Low Poo fizeram o truque, segue em frente. Só não esquece, agora você deve ler os rótulos de cremes e finalizadores com bastante atenção, pois o poder de limpeza dos produtos que esta usando é menor.
BARBOSA, Drª Ana Maria; DE FARIA SATO, Anne Miwa Callejon. Análises comparativas de formulações cosméticas sulfatadas x formulação cosméticas não sulfatadas. 2016.
PIRES-OLIVEIRA, Rafael et al. Degradação de cabelo causada por tensoativos: quantificação por meio da análise das soluções de lavagem por espectrofotometria UV Vis. 2013.
WAGNER, Rita de Cassia Comis et al. Degradação do cabelo decorrente do tratamento continuo com lauril sulfato de sódio e silicone. 2003.
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